Sobre

Homilia e o Catecismo da Igreja Católica

Este blogue tem como missão apresentar aos leitores a Doutrina Católica, para que, firmados nesta fonte segura e fiel, possam desenvolver catequeses locais autênticas. Mais que isso: é um convite para que nós, católicos, mergulhemos fundo nas riquezas da fé, conhecendo a Verdade que liberta: “e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).

O objetivo geral é oferecer uma exposição orgânica e sintética dos conteúdos essenciais da fé e da moral católicas, iluminados pelo Concílio Vaticano II e pela Tradição da Igreja, em harmonia com a Liturgia Romana. As fontes? Aquelas de peso: Sagrada Escritura, Santos Padres, Liturgia e o Magistério da Igreja.

Como nos lembra a Sacrosanctum Concilium:

“Pois dela [da Sagrada Escritura] são lidas as lições e explicadas na homilia” (SC, 24).

E mais adiante:

“O sermão deve haurir temas da Escritura e da Liturgia, como proclamação das maravilhas divinas na história da salvação e no mistério de Cristo, que permanece operante entre nós” (SC, 35,2).

E ainda:

“Recomenda-se vivamente a homilia como parte da própria liturgia, para expor os mistérios da fé e a vida cristã” (SC, 52).

Resumindo algumas verdades incontornáveis sobre a homilia

  1. Ela é parte da ação litúrgica.
  2. Suas fontes principais são a Escritura e a Liturgia.
  3. É explicação das leituras bíblicas.
  4. É proclamação das maravilhas divinas no mistério de Cristo.
  5. É onde o próprio Cristo opera em nós.
  6. Trata-se de um verdadeiro ministério de pregação.
  7. “Homilia” e “sermão” são, no fundo, sinônimos — e os Padres da Igreja que o digam!

Justificativa

A homilia carrega em si a própria essência da Liturgia: é celebração do Mistério de Cristo e da Igreja.

Não é aula de teologia. Não é palestra motivacional. Nem monólogo de autoajuda. É Palavra viva que, proclamada e explicada, ajuda a Palavra de Deus a encarnar-se na vida dos fiéis. Ela chama à conversão, desperta a fé, inspira a caridade, move à ação de graças. Tudo isso num único movimento de amor.

Hoje, fala-se muito em “leitura orante” da Bíblia. Mas não esqueçamos: a Liturgia da Palavra, na missa, sempre foi a mãe de todas as lectio divina. Foi ali, nas vigílias, nos ofícios noturnos, que tudo começou. O homiliasta deveria praticar essa leitura orante individualmente, para depois anunciá-la com propriedade.

A homilia não é só ensino; é oração, é louvor, é testemunho. É um tipo especial de profissão de fé.

E aqui um toque essencial: a Palavra de Deus é maior que qualquer pregação. O Espírito Santo age diretamente nos corações dos fiéis — o homiliasta apenas serve de ponte, eco, ajudante. Hoje, com a Palavra proclamada na língua do povo, essa ação é ainda mais poderosa.

Antigamente, o sermão precisava ser catequese pura, porque a Bíblia era lida em latim, baixinho, e o povo boiava bonito. Hoje não: a Palavra já fala alto — a homilia deve ecoar, não sufocar.

Homilia e Mistério Pascal

A homilia é memória viva da Páscoa de Cristo, e, por consequência, da nossa páscoa pessoal. Cristo age hoje, aqui e agora, pelos seus membros, que somos nós.

A Liturgia é esse grande rito que celebra e expressa a Páscoa de Cristo e da Igreja. Não apenas sua morte e ressurreição, mas todo o mistério de sua vida, paixão, morte, glorificação — e nossa transformação junto com Ele.

A homilia precisa manter viva essa memória. Não é lugar para catequese sistemática, nem para impor ideologias modernas mascaradas de evangelho. A missa é para celebrar — não para fazer campanha política ou dar aula de história.

No Brasil, ainda carregamos a tentação de usar a missa como oportunidade para evangelizar ou catequizar quem ainda nem crê direito. Não dá. Quem vem à missa já deveria ter sido iniciado na fé. O culto é para alimentar quem já crê.

Comunicação Litúrgica na Homilia

Fazer homilia é fazer liturgia. E liturgia é comunhão com Deus. Logo, a homilia precisa gerar comunhão, não apenas informar ou entreter.

O homiliasta não é só palestrante — é pontífice, é ponte. Ele comunica Deus ao povo e o povo a Deus. Fala não só com a boca, mas com o olhar, o gesto, o corpo inteiro.

Claro que a técnica ajuda: boa oratória, eloquência, uso inteligente dos recursos disponíveis... Mas nada disso substitui o essencial: ser alguém que está em comunhão viva com a Palavra que proclama.

Durante a homilia, a assembleia reza. Sim, reza! Ou melhor: a assembleia toda mergulha no Mistério, movida pela Palavra encarnada no agora da celebração.

Conclusão

Formar um bom homiliasta é, antes de tudo, formar alguém apaixonado pela Liturgia e pela Palavra. Alguém que entende que fazer homilia é ser servidor do Mistério, não dono dele. Alguém que aponta para Deus — e depois sai da frente.Parte superior do formulário

 

Pequena indicação bibliográfica

1. Gebhard Fesenmay, o. f. m., A Homilia na Celebração Eucarística, em Fr. Guilherme Baraúna, A Sagrada Liturgia Renovada pelo Concílio, Vozes, Petrópolis, 1964, p. 405-427.

2. Irineu Sansão, Aspectos Teológico-Pastorais da Pregação no culto Divino à luz do Vaticano II, Vozes, Petrópolis 1969.

3. CELAM, Homilia, Edições Paulinas, São Paulo 1983.

4. Luigi Della Torre, Homilia, em Dicionário de Liturgia, Edições Paulinas/Edições Paulistas, São Paulo 1992.

5. Lucien Deiss, A Homilia, em A Palavra de Deus Celebrada. Teologia da Celebração da Palavra de Deus, Vozes, Petrópolis 75-108.

5. Luis Maldonado, A Homilia: Pregação, liturgia, comunidade, tr. Paulus Editora, São Paulo 1997.

6. Alberto Beckhäuser, OFM, A homilia à luz da Sagrada Lituriga em Pe. Geraldo L. B. Hackmann (Org.), Sub Umbris Fideliter. Festschrift em homenagem a Frei Boaventura Kloppenburg, EDIPUCRS, Porto Alegre 1999, p.11-39.

7. Alberto Beckhäuser, OFM, Comunicação homilética, em Comunicação litúrgica: Presidência, Homilia, Meios Eletrônicos, Vozes, Petrópolis 2003, p. 35-84.

8. Frei Alberto Beckhäuser, OFM, Hermenêutica e Liturgia: REB 32 (1972) 568-580.

9. Dizionario di Omiletica, a cura di Manlio Sodi - Achille M. Triacca, Editrice Elle Di Ci - Editrice VELAR.