Introdução precisa sobre o Catecismo da Igreja Católica

Introdução ao Catecismo da Igreja Católica

Entre a fé da Igreja e a crise de interpretação conciliar

O ano de 2012 marcou duas datas significativas: os 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica e os 50 anos do início do Concílio Vaticano II. Para celebrar esse duplo marco, o Papa Emérito Bento XVI proclamou o Ano da Fé, iniciado em outubro de 2012 e encerrado na Solenidade de Cristo Rei, em 2013.

Desde sua promulgação, o Concílio Vaticano II tem sido interpretado sob dois enfoques distintos. De um lado, temos a hermenêutica da continuidade, que o lê em consonância com os concílios anteriores, reforçando a doutrina perene da Igreja, apenas revestida de linguagem mais adequada ao homem contemporâneo. De outro, há a hermenêutica da ruptura, que pretende instaurar uma “nova Igreja”, supostamente pós-conciliar, desligada da tradição milenar e aberta a inovações radicais.

O Papa Bento XVI insiste na necessidade de uma leitura em continuidade, pois só assim é possível colher os verdadeiros frutos do Concílio. Em sua constituição apostólica Porta Fidei (2011), que instituiu o Ano da Fé, ele afirmou:

Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa.
[...]
Se o lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja.


Contudo, o chamado “espírito do Concílio” não passa do desejo ideológico de um pequeno grupo de bispos progressistas, fortemente apoiados pela mídia, que tentaram implantar uma visão de Igreja em ruptura com sua própria identidade. Enquanto os documentos oficiais do Concílio Vaticano II foram assinados pela imensa maioria dos bispos, sua interpretação revolucionária constitui uma distorção e até mesmo uma traição ao verdadeiro espírito conciliar. É fato que alguns textos conciliares contêm ambigüidades, as quais têm sido exploradas por correntes heterodoxas, sem fidelidade ao Magistério.

Diante disso, o Ano da Fé representou um chamado a compreender o Concílio à luz da Tradição, especialmente por meio do estudo do Catecismo da Igreja Católica (CIC). Ainda em Porta Fidei, Bento XVI destacou:

“Para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos podem encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja Católica. Este constitui um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano II.”

“Na sua estrutura, o Catecismo apresenta o desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida cotidiana. O que nele se apresenta não é uma teoria, mas o encontro com uma Pessoa viva: Jesus Cristo, que age na Igreja. A liturgia e os sacramentos, por exemplo, são a concretização eficaz da fé professada, pois é por meio deles que a graça sustenta o testemunho do cristão.”


Assim, o Catecismo oferece uma memória viva e doutrinária da fé da Igreja ao longo de dois milênios. Ele parte das Sagradas Escrituras, passa pelos Padres da Igreja, teólogos e santos, e oferece uma síntese fiel da fé católica.

Por que estudar o Catecismo?

Muitos perguntam: Por que estudar o Catecismo e não simplesmente a Bíblia?

É claro que a Sagrada Escritura é a alma da teologia e fundamento da fé, mas não podemos esquecer que ela foi escrita por católicos e para católicos, dentro do seio da Igreja, a quem cabe a sua legítima interpretação. A Bíblia não é autônoma em relação à Igreja — é a Igreja que a canonizou, a preservou, a meditou e a interpreta com autoridade.

Outro problema, infelizmente comum, é o uso ideológico da Bíblia por certas edições contaminadas de leituras sociológicas, imanentistas ou até marxistas. Um exemplo é a chamada “Bíblia Pastoral”, publicada pela Paulus Editora. Embora a tradução não seja intrinsecamente má, as notas de rodapé, títulos e subtítulos refletem uma teologia desviada, que utiliza a Palavra de Deus como ferramenta de engajamento político e revolução social. A leitura da Escritura, portanto, deve ser feita à luz do Magistério e da Tradição, e o Catecismo é o instrumento adequado para essa leitura.

O prólogo do Catecismo já começa indicando seu objetivo maior:

“A vida do homem é conhecer e amar a Deus.”


E conhecer para amar: não se ama o que não se conhece. É necessário estudar aquilo que Deus revelou, e esse é o papel da catequese, que a Igreja sempre cultivou como transmissão orgânica e fiel da fé.

“A catequese é uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, que compreende especialmente um ensino da doutrina cristã, dado de modo orgânico e sistemático, com o fim de iniciá-los na plenitude da vida cristã.”
(CIC, n. 4)


A estrutura do Catecismo

O Catecismo da Igreja Católica está organizado em quatro grandes partes, que refletem os quatro pilares tradicionais da catequese:

  1. Profissão de Fé (Credo) – O que o cristão deve crer. É a fides quæ, o conteúdo da fé.
  2. Os Sacramentos da Fé – Como Deus se comunica conosco através dos sinais sacramentais. É a fé celebrada.
  3. A Vida em Cristo – Como o cristão deve viver, em comunhão com Deus e com os irmãos. É a fé vivida no amor e nos mandamentos.
  4. A Oração Cristã – Como o cristão se relaciona com Deus. É a fé rezada, cujo ápice é o Pai-Nosso.

Conclusão

Estudar o Catecismo da Igreja Católica é, portanto, mergulhar na fé viva da Igreja, conhecendo-a não como algo abstrato, mas como herança viva, atual, orgânica e profundamente espiritual. Ele é um instrumento de unidade doutrinal, de defesa contra os erros e de formação integral do católico. É um verdadeiro mapa da fé, que conduz a Cristo, verdadeiramente presente na Liturgia, na doutrina e na caridade.

Aprender o que a Igreja sempre ensinou é um passo decisivo para formar católicos autênticos, homens e mulheres configurados a Cristo, prontos a resistir aos modismos e ideologias, e dispostos a viver, professar e transmitir a fé católica sem concessões.

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