TEMA 2: Memorial da Páscoa

«A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, isto é, da
obra do salvação realizada pela vida, morte e ressurreição de Cristo, obra
tornada presente pela ação litúrgica» (Catecismo da Igreja Católica [CIC],
1409). [Para ajudar a compreender melhor, ler: 1 Coríntios 11, 23-27; Catecismo
da Igreja Católica, números 1337 a 1344 e 1362 a 1372]
«Fazei isto em memória de Mim»
— disse Jesus Cristo, no contexto da ceia pascal, de acordo
com o relato paulino da Primeira Carta aos Coríntios. Trata-se do testemunho
literário mais antigo sobre Eucaristia (por volta do ano 52), anterior aos
textos dos evangelhos. «‘Em memória de mim’ é o coração da revelação, a realização
da história da salvação para cada um de nós, o mistério escondido há séculos e
agora revelado» (Francesco Peyron – Paolo Angheben, «Eucaristia, coração da
vida», Edições Salesianas, Porto 2004, 77).
Eucaristia
São vários os termos usados para designar a Eucaristia (cf.
tema 16). Um deles é «Ceia do Senhor»: «porque se trata da ceia que o Senhor
comeu com os discípulos na véspera da sua paixão e da antecipação do banquete
nupcial do Cordeiro na Jerusalém celeste» (CIC 1329). Outro deles, «o primeiro
adotado pelas comunidades cristãs para definir a Eucaristia» (José Aldazábal,
«Dicionário Elementar de Liturgia» [DEL], ed. Paulinas, Prior Velho, 2007,
179), é o de «memorial» (em hebraico, ‘zikkaron’; em grego, ‘anamnesis’).
Memorial
«O mandato de Jesus foi: ‘Fazei isto em memória de mim’. O
memorial não é entendido pela Igreja como uma mera recordação subjetiva ou um
aniversário. Ele é uma recordação eficaz, uma celebração que atualiza o que
recorda: ou seja, é um ‘sacramento’ do acontecimento passado» (DEL 179). «Um
exemplo pode ajudar-nos: suponhamos que um pai de família, para salvar o filho
dum incêndio, se lança às chamas e sofre queimaduras para poder tirá-lo de lá.
Passados anos, permanecem nos braços e no peito do pai todos os sinais das
queimaduras. O filho, olhando para ele, recorda aquele gesto de amor»
(Francesco Peyron – Paolo Angheben…, 79). «Para os Judeus, o memorial da sua
Páscoa não é só o aniversário da sua saída do Egito, mas a renovação atualizada
da aliança que Deus lhes ofereceu então e lhes continua a oferecer agora. Para
os cristãos, o memorial da Morte de Cristo, agora Ressuscitado, atualiza e
comunica, em cada celebração, a força salvadora do acontecimento da cruz. Além
disso, o memorial visa também o futuro: em certo sentido, adianta-o e
garante-o. Em cada Missa, ao comer o Pão e o Vinho, que são o Corpo de Cristo
(presente), proclama-se a morte do Senhor (passado) ‘até que Ele venha’
(futuro). É assim que S. Paulo descreve a Eucaristia (cf. 1Coríntios 11, 26). É
desta forma também que o Concílio define a Eucaristia: como memorial da Morte e
Ressurreição de Cristo (cf. Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia —
«Sacrosanctum Concilium», 47). […] O Catecismo explica a Eucaristia a partir
desta chave (cf. CIC 1362-1372). Os próprios textos do Missal são os que
exprimem, sobretudo, a identidade da Eucaristia como memorial da Páscoa de
Cristo: ‘ao celebrar agora o memorial da morte e ressurreição do vosso Filho…’
(Oração Eucarística II)» (DEL 179).
Páscoa
«A palavra ‘Páscoa’ vem do hebraico ‘pesah’, que parece
significar ‘coxear, saltar, passar por cima’, talvez aludindo a algum ‘salto’
ritual e festivo. Mas bem rápido passou a referir-se ao facto de que Javé
‘passou ao largo’ pelas portas dos israelitas, no último castigo infligido aos
egípcios, e, mais tarde, à passagem do Mar Vermelho, no trânsito da escravidão
para a liberdade. […] A Páscoa, no Novo Testamento, é uma categoria fundamental
para entender a obra salvadora de Cristo e da Eucaristia. […] Agora é o êxodo,
o salto, a passagem de Cristo para o Pai na sua hora crucial de morte e
ressurreição, o que dá sentido novo e pleno à Páscoa judaica. Na morte e
ressurreição, em que Cristo é o verdadeiro Cordeiro pascal, Ele ofereceu o
sacrifício definitivo e conseguiu a Nova Aliança, a reconciliação de Deus com a
humanidade, e deu origem ao novo povo da Igreja. […] E assim como os Judeus, em
cada ano, fazem o memorial da sua Páscoa-Êxodo, sobretudo na ceia pascal,
também os cristãos recebem o encargo de celebrar – com um ritmo mais frequente
– o memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia» (DEL 226).
«Portanto, ‘recordar’ é ‘trazer de novo ao coração’ com a
memória e o afeto, mas também celebrar uma presença. A Eucaristia, verdadeiro
memorial do mistério pascal de Cristo, é capaz de manter viva em nós a memória
do seu amor» (João Paulo II, Audiência Geral de 4 de outubro de 2000).