«O Matrimônio assenta no consentimento dos contraentes, quer
dizer, na vontade de se darem mútua e definitivamente, com o fim de viverem uma
aliança de amor fiel e fecundo» (Catecismo da Igreja Católica [CIC], 1662). O
Matrimônio é, por excelência, o sacramento do amor. [Para ajudar a compreender
melhor, ler: Gênesis 2, 18-24; Catecismo da Igreja Católica (CIC), números 1601
a 1620]
«Os dois serão uma só carne»
— refere o autor do livro do Gênesis sobre a união
matrimonial entre o homem e a mulher. Os primeiros capítulos do Gênesis são uma
meditação sapiencial sobre o ser humano nas suas três dimensões fundamentais:
com Deus, com o mundo, com os seus semelhantes. O segundo capítulo descreve o
projeto de Deus sobre a Humanidade e sobre a realidade criada: um plano a
transbordar de harmonia. Neste projeto, a criação do ser humano surge como
corolário de toda a obra divina. No segundo capítulo, fica claro que o ser
humano foi criado para a relação: «o homem deixará o pai e a mãe, para se unir
à sua mulher; e os dois serão uma só carne». A expressão «costela do homem»
(versículos 21 e 22) usada para designar a mulher expressa a profundidade da
relação humana. Assim, o masculino (homem) e o feminino (mulher) descobrem-se
mutuamente como seres criados por Deus com a mesma dignidade e grandeza. Neste
segundo capítulo destaca-se a relação entre os dois, enquanto que, no primeiro
capítulo, evidencia a dignidade de ambos: «Deus disse: ‘Façamos o ser humano à
nossa imagem, à nossa semelhança’ […]. Deus criou o ser humano à sua imagem,
criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher» (capítulo 1, versículos
26 e 27). A possibilidade de comunhão é tão profunda que passam a ser «uma só
carne».
Matrimônio
O Matrimônio é uma «íntima comunhão (comunidade) de vida e
de amor» — assim o designam vários documentos da Igreja, atribuindo a sua
origem a Deus (cf., por exemplo, a Constituição Pastoral sobre a Igreja no
mundo atual — «Gaudium et Spes», 48). Aliás, «todas as religiões deram um
sentido sagrado à união do homem e da mulher, origem da vida e colaboração
explícita com a obra criadora de Deus» (José Aldazábal, «Dicionário Elementar
de Liturgia», ed. Paulinas, Prior Velho, 2007, 177). Deus é o autor do
matrimônio porque grava no coração do homem e da mulher a capacidade (e também
a responsabilidade) do amor e da comunhão. «Desde a origem, a Bíblia mostra que
o casamento não é um dado natural sem mais, algo que Deus teria criado como
todas as outras coisas. […] A Bíblia parece sugerir que é exatamente nesta
dualidade de amor que se deve ver a ‘imagem e semelhança de Deus’. […] Não é
por sua própria iniciativa ou impelidos pela paixão que se dão um ao outro;
não: é o próprio Deus quem os dá um ao outro» (Godfried Danneels, «A alegria de
uma pertença», ed. Lucerna, Cascais 2014, 112).
Amor
«A imagem de Deus é o casal no matrimônio: o homem e a
mulher; não só o homem, não somente a mulher, mas os dois juntos. Esta é a
imagem de Deus: o amor, a aliança de Deus connosco está representada na aliança
entre o homem e a mulher. […] Somos criados para amar, como reflexo de Deus e
do seu amor. Na união conjugal o homem e a mulher realizam esta vocação no
sinal da reciprocidade e da comunhão de vida plena e definitiva. Quando um
homem e uma mulher celebram o sacramento do Matrimônio, Deus, por assim dizer,
‘espelha-se’ neles, imprime neles os seus lineamentos e o caráter indelével do
seu amor. O matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós. Com efeito, também
Deus é comunhão: as três Pessoas do Pai, Filho e Espírito Santo vivem desde
sempre e para sempre em unidade perfeita. É precisamente nisto que consiste o
mistério do Matrimônio: dos dois esposos Deus faz uma só existência. A Bíblia
usa uma expressão forte e diz ‘uma só carne’, tão íntima é a união entre o
homem e a mulher no matrimônio! Eis precisamente o mistério do matrimônio: o
amor de Deus reflete-se no casal que decide viver junto. Por isso, o homem
deixa a sua casa, a casa dos seus pais, e vai viver com a sua mulher, unindo-se
tão fortemente a ela que os dois se tornam — reza a Bíblia — uma só carne»
(Francisco, Audiência Geral de 2 de abril de 2014).
«Assim como o Batismo permite reconhecer a chamada a
tornar-se, em Cristo, filhos de Deus, assim também o sacramento do Matrimônio
permite reconhecer a palavra de amor que faz com que um homem e uma mulher
sejam uma só carne» (Carlo Maria Martini, «O corpo», Paulinas, Prior Velho
2003, 64).
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