«A doença e o sofrimento estiveram sempre entre os problemas
mais graves que afligem a vida humana. […] A doença pode levar à angústia, ao
fechar-se em si mesmo e até, por vezes, ao desespero e à revolta contra Deus.
Mas também pode tornar uma pessoa mais amadurecida, ajudá-la a discernir, na
sua vida, o que não é essencial para se voltar para o que o é. Muitas vezes, a
doença leva à busca de Deus, a um regresso a Ele» (Catecismo da Igreja Católica
[CIC], 1500-1501). [Para ajudar a compreender melhor, ler: Mateus 4, 23-25;
Catecismo da Igreja Católica, números 1499 a 1513]
«Curando entre o povo todas as doenças e enfermidades»
— refere o evangelista (Mateus) ao resumir a atividade de
Jesus Cristo, na Galileia. Juntamente com a pregação, este é um dos traços
característicos de Jesus Cristo: aproxima-se dos doentes, conversa com eles,
conforta-os, cura-os, perdoa-lhes os pecados. Desta forma, Jesus Cristo mostra
que a doença não era um castigo de Deus, como muitos afirmavam (infelizmente,
ainda há quem o diga, mesmo alguns que se dizem cristãos!). «No Antigo
Testamento, a doença foi frequentemente experienciada como uma dura prova,
contra a qual se podia rebelar, mas em que se podia reconhecer a mão de Deus.
Já com os profetas emergiu a ideia de que o sofrimento não é apenas uma
maldição e nem sempre uma consequência de um pecado pessoal, e que uma pessoa
também pode ser para os outros um sofrimento assumido com paciência. Jesus veio
para revelar o amor de Deus. Frequentemente o fez onde nos sentimos
especialmente ameaçados: na fragilidade da nossa vida, através da doença. Deus
quer que nos tornemos saudáveis, reconhecendo nisso a vinda do Reino de Deus» (Catecismo
Jovem da Igreja Católica [YOUCAT], 240-241).
Unção dos Enfermos
«A Igreja continuou a cuidar dos doentes em todas as
dimensões, e também celebrando com eles este sacramento da Unção, dando-lhes a
força e a graça na sua debilidade. Em séculos sucessivos, sobretudo a partir do
século IX, deslocou-se o sentido deste sacramento: em vez de ser a graça
curativa a aliviadora para os doentes, começou a considerar-se como sacramento
dos moribundos, e passou a chamar-se ‘Extrema-Unção’» (José Aldazábal,
«Dicionário Elementar de Liturgia» [DEL], ed. Paulinas, Prior Velho, 2007, 303).
Felizmente, o II Concílio do Vaticano, através da Constituição Conciliar sobre
a Sagrada Liturgia — «Sacrosanctum Concilium» — determinou uma reforma deste
sacramento, assim como a alteração do nome para «Unção do enfermos» (cf.
números 73 a 75). Seguindo estas orientações, surgiu o Ritual da Unção e
Pastoral dos Doentes. Esta mudança de nome não é uma simples troca de palavras
ou de conceitos. O objetivo é ajudar a entender, a celebrar e a viver melhor
este sacramento. «Até há pouco tempo (e em alguns lugares ainda hoje), quando o
sacerdote ia ungir um doente, era sinal de que já não havia esperança. Ele ia
para despedir aquela pessoa para a eternidade. […] E muita gente, ainda hoje,
espera que o doente esteja ‘nas últimas’. […] É bom insistir que este Sacramento
é dos enfermos e não dos moribundos» (José Bortolini, «Os Sacramentos na tua
vida», São Paulo, Lisboa 1995, 97).
Conforto e paz
«A graça especial do sacramento da Unção dos Enfermos tem
como efeitos: […] o conforto, a paz e a coragem para suportar cristãmente os
sofrimentos da doença ou da velhice» (CIC 1532). Este é um dos significados da
unção com o óleo: «exprime cura e conforto» (CIC 1294). Na verdade, um dos
significados da simbologia da unção era ser «sinal de cura, pois amacia as
contusões e as feridas e torna radiante de beleza, saúde e força» (CIC 1293).
Neste sentido, os textos usados na celebração deste sacramento «apresentam-no
como o encontro sacramental com Cristo médico e pastor, que está próximo e
continua a curar, aliviando e libertando do mal» (DEL 303). No entanto, para
que se alcance este objetivo da graça sacramental (conforto e paz), o doente (e
também os que o rodeiam) precisa de «entrar na aceitação da sua impotência e
limitação» (Enzo Bianchi e Luciano Manicardi, «Ao lado do doente. O sentido da
doença e o acompanhamento dos doentes», Coleção «Cuidar e Curar», ed. Paulinas,
Prior Velho, 2012, 21).
«O sacerdote vem para ajudar o doente ou o idoso. […] É
preciso chamar o sacerdote para junto do doente e dizer: ‘venha, dê-lhe a
unção, abençoe-o’. É o próprio Jesus que chega para aliviar o doente, para lhe
dar força, para lhe dar esperança, para o ajudar; também para lhe perdoar os
pecados. E isto é muito bonito!» (Francisco, Audiência Geral de 26 de fevereiro
de 2014).
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